terça-feira, 18 de setembro de 2012

A Árvore Mãe

A vida é feita de fases. Algumas maravilhosas, nas quais você guarda as suas melhores lembranças. Outras são mais complicadas, onde tudo fica mais difícil. São nesses momentos em que você amadurece mais e cresce como pessoa. Mas não há dúvida que são as melhores fases  que deixam saudades, que nos fazer ver como a vida vale a pena. Eu vivi ambas.
E tem uma história que remete a essas duas fases da vida, a história da Arvore Mãe. E para mim essa história foi uma experiência estética
Como muito sabem, meu pai sofre do mal de Alzheimer, e está no nível intermediário. Ele ainda se lembra de mim e dos meus familiares, mas sabemos que isso é algo finito. Mas vou retomar esse tema mais tarde
Minha família tinha uma fazenda que ficava no interior de São Paulo, mais especificamente em Araras. Era uma fazenda completamente focada em produção, portanto não havia piscina, campo de futebol nem nada. Mas mesmo assim era o lugar que eu mais amava em todo o universo, onde eu conheci pessoas maravilhosas como o vaqueiro Dito Chefe e Dona Célia. As lembranças que eu tive de lá ficarão marcadas em mim, e nada nem ninguém vão tira-las de mim. Eu e os filhos dos empregados jogávamos bola no meio do pasto, tendo que desviar dos estercos das vacas (eu sei que é nojento, mas era divertidíssimo), acordávamos de madrugada para tirar o leite das vacas, e logo depois íamos pescar. Também fazíamos pipas com sacos plásticos e varetas de bambus com objetivo de ver qual voava mais alto. Íamos de bicicleta até a mata para ver macacos. Eram tantos planos de casa na arvore que nunca saíram do papel, tantas invasões em pomares de vizinhos. Só de me lembrar de tudo isso eu fico com lagrimas nos olhos. Sentavamos todos no final do dia para ver o sol sumir sob o horizonte formando uma cena linda.
 Mas por brigas de família, a fazenda foi vendida há cerca de um ano e meio. De lá até hoje, eu sonho TODAS as noites com aquele lugar, com minha infância lá.
Todo dia meu pai me pagava pela mão, e me levava para dar uma volta pelas terras, e sempre me levava em um lugar especifico. Quase da divisa havia uma arvore enorme, um jequitibá. Ele tinha mais de 100 metros de altura, e estipulava-se que ele tivesse mais de 500 anos. Eram necessárias mais de 10 pessoas de mão dadas para conseguir dar um abraço nela. Essa arvore com certeza era e sempre será a mais bonita já vista. Só de chegar perto de onde ela estava já se sentia uma energia impressionante. Meu pai a chamava de Arvore Mãe.

Todo santo dia, meu pai me pegava pela mão e me levava lá. Sentávamos-nos sobre as raízes e ele contava histórias. Histórias de aventura, que envolviam bruxas, cavaleiros, monstros misteriosos. Ele tinha esse dom, de inventar as mais maravilhosas, que me faziam viajar com as palavras. E em uma dessas histórias ele me disse que aquela árvore em que eu ouvia as histórias era um lugar mágico. Nessa história a árvore era o local onde moravam fadas. Fadas invisíveis que podiam realizar qualquer pedido, no entanto que esse pedido fosse feito com o coração. Para ele se realizar era necessário dar três voltas em volta da árvore pensando se concentrando no pedido. Com a história finalizada, eu com minha ingenuidade acreditei e perguntei para ele se eu fizesse isso, meu pedido iria se realizar. Meu pai com um sorriso enorme no rosto, disse que não era pra eu meu duvidar. Então pensando no meu pedido comecei a rodear a árvore. Uma volta, duas voltas. Três voltas completas. Quando terminei lá estava o meu pedido. Uma espada mágica. Encostada sobre a árvore estava uma espada de madeira, com algumas letras marcadas em sua superfície: Das fadas para Eduardo. Foi uma emoção que palavras não podem descrever. Peguei a espada e comecei a lutar com monstros invisíveis, sendo sempre o vencedor.
Mas o que eu não sabia é que ele já tinha planejado tudo. Como ele me conhecia bem, sabia que eu sempre queria uma espada “invencível”, que exterminasse qualquer monstro. Com isso ele havia arranjado alguns pedaços de madeira, e fez exatamente o formato de uma espada. Levou até um especialista que marcou com formas de letras, que eram esquentadas e  queimavam essas letras na madeira como uma impressão.  Sem eu perceber, ele apoiou essa espada na árvore como se ela tivesse surgido “magicamente”.
Guardo essa espada comigo até hoje, e por mais que muitos pensam que ela é bobeira, mas ela é realmente mágica. Quando seguro ela e fecho os olhos, eu volto no tempo e vou para um lugar mágico, minha fazenda. Quando fecho os olhos, me vejo jogando bola no pasto, me lembro do gosto das frutas roubadas do vizinho. Me lembro de deitar no chão umidecido e ver folhas das arvores balançarem com o vento. Mas a espada me lembra de quando meu pai estava bem, sem doença, e de suas histórias maravilhosas.

Para mim essa história toda que eu passei é uma experiência estética. Toda vez que eu vejo a espada feita por meu pai, ou vejo uma foto da Arvore mãe, eu sinto sensações maravilhosas. Talvez nada disso acontecido se não fosse a árvore ou a boa vontade de meu pai, mas o fato é que aconteceu


Eduardo Freire

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