Em julho do ano passado eu
fiz uma das viagens mais diferentes e marcantes da minha vida (pode ser compara
até com a primeira vez que eu fui para a Disney!). Dia 15 de julho de 2011 eu desembarquei, junto
com um grupo de mais ou menos 40 jovens no aeroporto internacional de Tel Aviv.
Após quinze horas longuíssimas de voo, em vez de irmos para o hotel descansar,
fomos enfurnados em um ônibus e seguimos direto rumo a Jerusalém. A minha
experiência estética começa aqui.
Era mais ou menos meio dia
quando chegamos a Jerusalém e logo paramos para apreciar a vista mais
espetacular da cidade. O sol batia no
topo da redoma dourada da mesquita e dava para ver toda a cidade. Foi nesse
momento que eu, e acredito que todo mundo que estava lá comigo, realmente se
sentiu judeu e pertencente a um lugar maior.
Esticando um pouco a viagem
(foram mais de 10 dias), ainda em Jerusalém, outro lugar que deve ser
mencionada é o muro das lamentações. Foi uma experiência única; primeiramente,
todas as mulheres tiveram que amarrar uma canga na cintura para cobrir os
shorts que nós estávamos e algumas tiveram que colocar outra blusa ou casaco
para cobrir os ombros, em segundo lugar, como era a primeira vez de todo mundo
em Israel, os nossos guias não falaram que nós estávamos indo conhecer o muro
naquele dia.
Quando chegamos perto das
escadas que levam ao muro, eles vendaram os nossos olhos e nos enfileiraram de
modo que ficamos em uma fila indiana um segurando no ombro do outro. Você já
tentou andar sem enxergar em um lugar que você não conhece? A percepção que
você tem dos estímulos externos e do seu próprio corpo é surreal.
Devemos ter andado desse
jeito uns 15 minutos (que pareceram muito mais, diga-se de passagem) e pediram
para a gente sentar no chão, ainda sem tirar as vendas. A expectativa era
sufocante, estava quente (ainda mais com a canga e a outra blusa para cobrir os
ombros) e o chão no qual estávamos sentados estava apelando, dava para ouvir o
burburinho de várias pessoas, mesmo não podendo enxergá-las de fato. A
atmosfera do lugar era diferente, não sei descrever, a palavra que me vem à
cabeça é mágica. Nossos guias pediram, antes de tirar as nossas vendas, para
nos concentrarmos em algum pensamento bom e depositássemos toda a nossa fé
nele. Foi inebriante, é como se por um momento eu pudesse fazer ou ser qualquer
coisa que eu quisesse simplesmente por acreditar.
Quando, enfim, fomos liberados para ver, a
primeira coisa que eu vi foi tudo branco devido à claridade ofuscante do sol,
em seguida, a vista foi ficando nítida e demos de cara com um muro impotente
lotado de pessoas. Estávamos sentados em uma espécie de “varanda” acima do
muro, então conseguimos ver ao redor do muro a mesquita e um pouco da cidade.
Aquele sentimento de ser judeu
voltou com tudo (só senti esse sentimento tão forte quanto no muro quando fui
visitar o museu do Holocausto, mais tarde, naquele mesmo dia). Ao chegar perto
do muro (ele é segregado, então tem parte do muro reservada para mulheres e
parte reservada para homens) e poder encostar a mão nele e sentir sua textura,
todo seu peso e seus anos e anos e anos de história, eu me senti viva e
orgulhosa do meu povo como eu nunca havia me sentido antes. Depositei meu
papelzinho com uma prece (do lado de milhares de outros papeizinhos que haviam
sido depositados por outras pessoas naquele dia) e me afastei para olhar o muro
com atenção uma última vez antes de começar lentamente a me afastar (andando de
costas, pois não se pode dar as costas para o muro), dando um passo de cada
vez, vagarosamente, sem nunca deixar de prestar atenção no muro à minha frente.
Têm muitas experiências
estéticas interessantes que eu podia contar de Israel (o nascer do sol na
Masada, o mar morto, a cidade litorânea, as tendas beduínas, o museu do
holocausto, o cemitério de Jerusalém...), porém eu escolhi aquela que foi mais
marcante para mim, foi um verdadeiro privilégio ter feito essa viagem, mesmo
quem não é judeu consegue extrair um conhecimento absurdo de Israel que será
levado para a vida toda. Recomendo a todos que pelo menos em algum momento de
suas vidas, façam essa viagem, é um banquete cultural e estético.
Por: Marina Pilnik Portela
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