quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Israel: O muro das lamentações



Em julho do ano passado eu fiz uma das viagens mais diferentes e marcantes da minha vida (pode ser compara até com a primeira vez que eu fui para a Disney!).  Dia 15 de julho de 2011 eu desembarquei, junto com um grupo de mais ou menos 40 jovens no aeroporto internacional de Tel Aviv. Após quinze horas longuíssimas de voo, em vez de irmos para o hotel descansar, fomos enfurnados em um ônibus e seguimos direto rumo a Jerusalém. A minha experiência estética começa aqui.
Era mais ou menos meio dia quando chegamos a Jerusalém e logo paramos para apreciar a vista mais espetacular da cidade.  O sol batia no topo da redoma dourada da mesquita e dava para ver toda a cidade. Foi nesse momento que eu, e acredito que todo mundo que estava lá comigo, realmente se sentiu judeu e pertencente a um lugar maior.
Esticando um pouco a viagem (foram mais de 10 dias), ainda em Jerusalém, outro lugar que deve ser mencionada é o muro das lamentações. Foi uma experiência única; primeiramente, todas as mulheres tiveram que amarrar uma canga na cintura para cobrir os shorts que nós estávamos e algumas tiveram que colocar outra blusa ou casaco para cobrir os ombros, em segundo lugar, como era a primeira vez de todo mundo em Israel, os nossos guias não falaram que nós estávamos indo conhecer o muro naquele dia.
Quando chegamos perto das escadas que levam ao muro, eles vendaram os nossos olhos e nos enfileiraram de modo que ficamos em uma fila indiana um segurando no ombro do outro. Você já tentou andar sem enxergar em um lugar que você não conhece? A percepção que você tem dos estímulos externos e do seu próprio corpo é surreal.
Devemos ter andado desse jeito uns 15 minutos (que pareceram muito mais, diga-se de passagem) e pediram para a gente sentar no chão, ainda sem tirar as vendas. A expectativa era sufocante, estava quente (ainda mais com a canga e a outra blusa para cobrir os ombros) e o chão no qual estávamos sentados estava apelando, dava para ouvir o burburinho de várias pessoas, mesmo não podendo enxergá-las de fato. A atmosfera do lugar era diferente, não sei descrever, a palavra que me vem à cabeça é mágica. Nossos guias pediram, antes de tirar as nossas vendas, para nos concentrarmos em algum pensamento bom e depositássemos toda a nossa fé nele. Foi inebriante, é como se por um momento eu pudesse fazer ou ser qualquer coisa que eu quisesse simplesmente por acreditar.
 Quando, enfim, fomos liberados para ver, a primeira coisa que eu vi foi tudo branco devido à claridade ofuscante do sol, em seguida, a vista foi ficando nítida e demos de cara com um muro impotente lotado de pessoas. Estávamos sentados em uma espécie de “varanda” acima do muro, então conseguimos ver ao redor do muro a mesquita e um pouco da cidade.
Aquele sentimento de ser judeu voltou com tudo (só senti esse sentimento tão forte quanto no muro quando fui visitar o museu do Holocausto, mais tarde, naquele mesmo dia). Ao chegar perto do muro (ele é segregado, então tem parte do muro reservada para mulheres e parte reservada para homens) e poder encostar a mão nele e sentir sua textura, todo seu peso e seus anos e anos e anos de história, eu me senti viva e orgulhosa do meu povo como eu nunca havia me sentido antes. Depositei meu papelzinho com uma prece (do lado de milhares de outros papeizinhos que haviam sido depositados por outras pessoas naquele dia) e me afastei para olhar o muro com atenção uma última vez antes de começar lentamente a me afastar (andando de costas, pois não se pode dar as costas para o muro), dando um passo de cada vez, vagarosamente, sem nunca deixar de prestar atenção no muro à minha frente.
Têm muitas experiências estéticas interessantes que eu podia contar de Israel (o nascer do sol na Masada, o mar morto, a cidade litorânea, as tendas beduínas, o museu do holocausto, o cemitério de Jerusalém...), porém eu escolhi aquela que foi mais marcante para mim, foi um verdadeiro privilégio ter feito essa viagem, mesmo quem não é judeu consegue extrair um conhecimento absurdo de Israel que será levado para a vida toda. Recomendo a todos que pelo menos em algum momento de suas vidas, façam essa viagem, é um banquete cultural e estético.

Por: Marina Pilnik Portela

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