quarta-feira, 19 de setembro de 2012

O segundo e definitivo final (com um intervalo no meio)

        Como esquecer daquela sessão, quase épica, de cinema?
       Depois de aproximadamente dez anos esperando aquele momento, o dia da estréia do ultimo filme da série Harry Potter estava chegando. Só havia um problema: depois de uma imensa preparação com primos e amigos (maratonas com os filmes anteriores, releitura dos livros, etc) eu recebi a notícia de que - graças à máfia das companhias aéreas - meu pai havia sido obrigado a antecipar as passagens da viagem de julho e, no tão esperado dia da estréia, eu estaria em um avião, indo para Istambul. Eu mesmo não sei descrever o que se passava dentro de mim quando recebi a notícia. É claro que estava muito feliz com a viagem, porém ao mesmo tempo fiquei muito bravo com o fato de que não só perderia a estréia do filme, como não poderia assisti-lo com meus primos e amigos. Era algo que eu esperava há tempo tempo que nem sabia como reagir.


(Capa da primeira edição brasileira do primeiro livro da série, lançado no Brasil em janeiro de 2000 - ainda sem o logo da série que só seria criado no meio do ano para o poster do filme)



       No segundo dia da viagem, minha família resolveu gastar horas em um 'mercadão' para comprar coisas desnecessárias. Como sempre odiei compras, resolvi me separar deles e caçar um cinema para assistir ao filme. Graças a uma grande coincidência (destino, deuses, chame do que quiser) havia um cinema logo na frente do mercado. Me enfiei lá e peguei uma sessão do filme que havia começado há poucos minutos (depois de uma luta com o bilheteiro, que não falava inglês e só entendia "Harry Potter"). Como é possível imaginar, estava emocionado, afinal, não é todo dia que perdemos algo que nos acompanha há mais de dez anos.

       Durante o filme fui me deparando com algumas surpresas, como o som da sala, que era péssimo, e a legenda em turco (que não foi uma surpresa, mas era, de qualquer jeito, algo fora do comum, estranho para mim), porém o momento mais bizarro foi quando, no meio do filme, eu pude ver na tela o final do rolo, então apenas uma luz branca, as luzes se acenderam e todos se levantaram e saíram da sala. Eu fiquei lá, sozinho. Na tela aparecia algo escrito em turco enquanto eu tentava entender o que acontecia. A princípio fiquei estressado, achando que o projetor tinha quebrado ou algo do tipo e a minha chance de assistir ao filme havia ido para o espaço. Então, alguns minutos depois, o público foi voltando com pipocas e refrigerantes e eu logo entendi que aquele momento era um intervalo. Tive uma crise de risos e esperei o retorno da projeção.

      Mal sabia eu que a grande surpresa ainda estava por vir. Quando começaram os créditos, eu estava quase chorando, como era de se esperar. Porém não estava triste, sentia raiva! Depois de tudo o que eu passei para conseguir assistir ao maldito filme, depois de dez anos de espera, eu odiei o resultado final! Se eu soubesse nem tinha me preocupado e simplesmente aproveitaria a viagem, porém eu gostei tanto do livro e era algo tão importante para mim que o mínimo que esperava era um filme decente. Sai do cinema (depois de me perder lá dentro, pois a saída não era no mesmo lugar da entrada e todas as placas estavam em turco - o que, junto com o bilheteiro monoglota, me fez refletir sobre como será a copa no Brasil, mas isso não interessa no momento) e fui encontrar meus pais no mercado.

(Poster do último filme da série, lançado em duas partes, a primeira em novembro de 2010, a segunda em julho de 2011)

       Odiando o momento ou não, foi algo muito importante para mim, pois marcou o final de uma fase da minha vida que começou quase junto com as minhas memórias mais antigas e que eu sempre acreditei que não teria fim, mesmo sabendo desde o começo que seriam apenas sete livros e sete filmes (que se tornaram oito para dar mais lucro ao estúdio, afinal, o que importa no mundo além de dinheiro?).

Por Demétrio Abrahão

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