quarta-feira, 19 de setembro de 2012

O SOM DO SILENCIO



Gosto de pensar no mundo físico como um ambiente cheio de possíveis instrumentos musicais, cada um desses instrumentos – sendo eles objetos inanimados ou organismos repletos de vida – tem uma identidade sonora única, um timbre complexo, só dele. Penso no mundo como cheio de harmonias criando musicas serenas como as produzidas em florestas ou caóticas como na esfera do transito.
Me encanto com cada som que ouço mesmo que este esteja disfarçado no meio de outros sons que se destacam por sua beleza ou até por sua dissonância. Todos os sons me agradam, simplesmente pela sensação que me causam sendo ela prazerosa ou desconfortável.
Sempre que entro em um ambiente novo, gosto de parar por alguns segundos e me concentrar nos sons que propagam pelo espaço; gosto de olhar para algo e tentar ouvir o som que este reproduz, mesmo que seja apenas um pequeno ruído, um som cuja freqüência seja tão aguda que produz harmônicos quase imperceptíveis.
Assim sendo, a idéia de silencio sempre me fascinou, simplesmente porque nunca experienciei algo do gênero. Qual será o som do silencio? O único momento que chego perto de experimentar esta raridade, é quando vejo um filme sem o som. A partir do momento em que aperto o botão mute no controle remoto, sinto um certo desconforto, como se algo estivesse errado com a atmosfera, como se as partículas parassem de se mexer e as ondas sonoras se desfizessem. Essa sensação dura apenas alguns segundos porque este pequeno “silencio” logo é preenchido pelo som da sala. Desde a primeira vez em que senti este desconforto, a criação de som ambiente para filmes se tornou algo que me hipnotiza. Gosto da necessidade de “gravar o silencio” para que os espectadores não sintam este desconforto quando vêem um filme. E gosto do fato de que existem tipos diferentes de silencio como os silêncios de ambientes abertos e de ambientes fechados.
De tal modo, acho a idéia de silencio algo inconcebível, pois este é definido como a ausência do som. Se tudo é capaz de produzir som, o silencio portanto é inexistente.
Sei que a idéia de que tudo produz som só é verdade onde há partículas que se movimentem para criar pressões sonoras, mas ainda penso no silencio como algo abstrato. O escuro, por exemplo, é a ausência da luz; mesmo sendo a ausência da luz, ainda somos capazes de enxergá-lo, sabemos que está escuro porque conseguimos visualizar o preto da escuridão. Talvez esteja exagerando, mas acredito que o silencio seja algo similar a escuridão, conseguimos sentir a sua presença por meio da audição, talvez então, este possa ser visto como “o som do não-som”.
Para pensarmos deste jeito, temos que ignorar toda a questão física do som, a idéia de que ele precisa de partículas para existir. Assim, minha hipótese pode ser considerada tosca, uma especulação desnecessária. Mas Robert Wilson e Arno Penzias (físicos que estudam o campo da radioastronomia) não discordariam de mim. Juntos, Wilson e Penzias descobriram algo que até hoje me deixa desnorteada. Ao construir uma antena hipersensível e apontá-la para o espaço, ouviram um ruído que achavam ser uma interferência de origem terrestre. Depois de muita especulação, descobriram que o ruído não vinha de nenhuma fonte terrestre. Esse ruído foi mais tarde identificado como a Radiação Cósmica de Fundo em Micro-ondas (RCFM), em outras palavras, o SOM DO BIG BANG.

(Reprodução auditiva construida por Mark Whittle, do primeiro milhão de anos do universo comprimido em 5 segundos).

Isso mesmo, o som que viaja pelo universo em forma de ondas de radiação, este som não foi uma explosão, mas um ruído, e ele se locomove sem a necessidade de partículas. É sem duvida nenhuma, o som mais belo de todos; é o som do começo do universo, que caminha por ai despercebido. E se ele existe, então ele para mim
é o som do silencio.


Por: ISADORA VERÍSSIMO



















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