Gosto de pensar no
mundo físico como um ambiente cheio de possíveis instrumentos musicais, cada um
desses instrumentos – sendo eles objetos inanimados ou organismos repletos de
vida – tem uma identidade sonora única, um timbre complexo, só dele. Penso no
mundo como cheio de harmonias criando musicas serenas como as produzidas em
florestas ou caóticas como na esfera do transito.
Me encanto com cada
som que ouço mesmo que este esteja disfarçado no meio de outros sons que se
destacam por sua beleza ou até por sua dissonância. Todos os sons me agradam,
simplesmente pela sensação que me causam sendo ela prazerosa ou desconfortável.
Sempre que entro em um ambiente
novo, gosto de parar por alguns segundos e me concentrar nos sons que propagam
pelo espaço; gosto de olhar para algo e tentar ouvir o som que este reproduz,
mesmo que seja apenas um pequeno ruído, um som cuja freqüência seja tão aguda
que produz harmônicos quase imperceptíveis.
Assim sendo, a idéia
de silencio sempre me fascinou, simplesmente porque nunca experienciei algo do
gênero. Qual será o som do silencio? O único momento que chego perto de
experimentar esta raridade, é quando vejo um filme sem o som. A partir do
momento em que aperto o botão mute no
controle remoto, sinto um certo desconforto, como se algo estivesse errado com a
atmosfera, como se as partículas parassem de se mexer e as ondas sonoras se
desfizessem. Essa sensação dura apenas alguns segundos porque este pequeno
“silencio” logo é preenchido pelo som da sala. Desde a primeira vez em que
senti este desconforto, a criação de som ambiente para filmes se tornou algo
que me hipnotiza. Gosto da necessidade de “gravar o silencio” para que os
espectadores não sintam este desconforto quando vêem um filme. E gosto do fato
de que existem tipos diferentes de silencio como os silêncios de ambientes
abertos e de ambientes fechados.
De tal modo, acho a
idéia de silencio algo inconcebível, pois este é definido como a ausência do som. Se tudo é capaz de
produzir som, o silencio portanto é inexistente.
Sei que a idéia de
que tudo produz som só é verdade onde há partículas que se movimentem para
criar pressões sonoras, mas ainda penso no silencio como algo abstrato. O
escuro, por exemplo, é a ausência da luz; mesmo sendo a ausência da luz, ainda
somos capazes de enxergá-lo, sabemos que está escuro porque conseguimos
visualizar o preto da escuridão. Talvez esteja exagerando, mas acredito que o
silencio seja algo similar a escuridão, conseguimos sentir a sua presença por
meio da audição, talvez então, este possa ser visto como “o som do não-som”.
Para pensarmos deste
jeito, temos que ignorar toda a questão física do som, a idéia de que ele
precisa de partículas para existir. Assim, minha hipótese pode ser considerada
tosca, uma especulação desnecessária. Mas Robert Wilson e Arno Penzias (físicos
que estudam o campo da radioastronomia) não discordariam de mim. Juntos, Wilson
e Penzias descobriram algo que até hoje me deixa desnorteada. Ao construir uma
antena hipersensível e apontá-la para o espaço, ouviram um ruído que achavam ser
uma interferência de origem terrestre. Depois de muita especulação, descobriram
que o ruído não vinha de nenhuma fonte terrestre. Esse ruído foi mais tarde
identificado como a Radiação Cósmica de
Fundo em Micro-ondas (RCFM), em
outras palavras, o SOM DO BIG BANG.
(Reprodução auditiva construida por Mark Whittle, do primeiro milhão de anos do universo comprimido em 5 segundos).
Isso mesmo, o som que
viaja pelo universo em forma de ondas de radiação, este som não foi uma
explosão, mas um ruído, e ele se locomove sem a necessidade de partículas. É
sem duvida nenhuma, o som mais belo de todos; é o som do começo do universo,
que caminha por ai despercebido. E se ele existe, então ele para mim
é o som do silencio.
Por: ISADORA VERÍSSIMO
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